sábado, 26 de junho de 2010

Onde estás ? - Castro Alves


É meia-noite... e rugindo

Passa triste a ventania,

Como um verbo de desgraça,

Como um grito de agonia.

E eu digo ao vento, que passa

Por meus cabelos fugaz:

"Vento frio do deserto,

Onde ela está? Longe ou perto?"

Mas, como um hálito incerto,

Responde-me o eco ao longe:

"Oh! minh'amante, onde estás?. . .

Vem! É tarde! Por que tardas?

São horas de brando sono,

Vem reclinar-te em meu peito

Com teu lânguido abandono! ...

'Stá vazio nosso leito...

'Stá vazio o mundo inteiro;

E tu não queres qu'eu fique

Solitário nesta vida...

Mas por que tardas, querida?...

Já tenho esperado assaz...

Vem depressa, que eu deliro

Oh! minh'amante, onde estás? ...

Estrela — na tempestade,

Rosa — nos ermos da vida;

lris — do náufrago errante,

Ilusão — d'alma descrida!

Tu foste, mulher formosa!

Tu foste, ó filha do céu! ...

... E hoje que o meu passado

Para sempre morto jaz...

Vendo finda a minha sorte,

Pergunto aos ventos do Norte...

"Oh! minh'amante, onde estás?..."

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